Para Hildeberto Barbosa Filho
Nem toda sombra é refresco.
Nem todo lar é arrimo.
Nem todo feio causa medo.
Nem todo fruto é doce, opimo.
Erra quem, vendo a calma no céu,
imagina-o livre de tormenta.
De tanto lamentar o que perdeu,
pode alguém desprezar o que o contenta.
Por só valorizar o que o vulgo consagra,
e o pescoço torcer ao que de fato conta,
há quem dos outros o desprezo amarga
e dos medíocres permanece à sombra.
Há também quem persegue o aplauso,
seja ele sincero ou não
— e quanto mais rotundo e raso,
mais faz vibrar-lhe o coração.
Nem todo erro é descaso.
Nem todo abraço é perdão.