segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Ida e volta

 

                                              Para Hildeberto Barbosa Filho


Nem toda sombra é refresco.

Nem todo lar é arrimo.

Nem todo feio causa medo. 

Nem todo fruto é doce, opimo.

Erra quem, vendo a calma no céu, 

imagina-o livre de tormenta. 

De tanto lamentar o que perdeu, 

pode alguém desprezar o que o contenta. 

Por só valorizar o que o vulgo consagra, 

e o pescoço torcer ao que de fato conta, 

há quem dos outros o desprezo amarga

e dos medíocres permanece à sombra. 

Há também quem persegue o aplauso,

seja ele sincero ou não 

— e quanto mais rotundo e raso, 

mais faz vibrar-lhe o coração. 

Nem todo erro é descaso.

Nem todo abraço é perdão. 

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