quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Dual

Do que me lembro, esqueci.
Parti para onde me encontro.
Conheço quem nunca vi.
A lucidez me faz tonto.

Piedoso na inclemência,
sempre a perder o que ganho,
sou ativo na indolência,
e nos meus feitos, bisonho.

Professo a fé na descrença.
Costumo voar no chão.
O que me cura é doença,
e me dói quando estou são.

Pervertido querubim,
sou sincero na trapaça.
Não abdico de mim,
mas cedo só de pirraça.

Qual garimpeiro sem mina,
prossigo por uma estrada
que começa onde termina
e, ao final, dá em nada.

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